Tenho muitas coisas de intimidade com a praia. Me traz paz. Ali acabou um ciclo que deu início à todos os outros que meu corpo permite. Foi dai que surgiu a ideia de representar esses ciclos que me pertencem em um lugar onde sinto que pertenço.
Corpo como espaço físico que aceita intervenção? Mas e corpo como intervenção? Existir é presença e presença é pertencimento.
A dinâmica de construção foi criar essas 12 vaginas perto de um local onde as ondas pudessem chegar e lavá-las. Devido a essa escolha, passei por momentos onde questionei o sucesso, o fracasso e a finalidade de todo o projeto. Foi ai que percebi que tudo estava ligado e muito bem amarrado em questões de conceito e escolha. Foi nesse questionar geral que consegui pela primeira vez argumentar comigo mesma o propósito e as escolhas dele. Enquanto eu esperava, frustrada, uma nova onda vir (já que a primeira que me alcançou veio logo que fiz a primeira escultura na areia), vi duas crianças. Uma delas estava catando conchinhas e a outra estava cavando na areia. Ambas fazendo a mesma coisa que eu, mas sem o mesmo propósito, e provavelmente não entendendo o que eu estava fazendo ali. Nem se perguntassem eu saberia responder. Nenhuma delas tinha passado pelo momento de início de ciclos menstruais. Vivi ali a certeza de que, pelo menos pra mim, me entregar e imergir nesse trabalho era importante.
Fiquei cerca de 2h esperando uma nova onda chegar as vaginas, e quando chegou, fiquei aliviada, feliz, satisfeita e orgulhosa. E mesmo que tenha acabado com algumas horas de trabalho de forma tão rápida e despreocupada, foi lindo. Sentimento de que fiz tudo ao meu alcance para que, mesmo que efêmero, esse projeto fosse lembrado. Por mim.
Projeto desenvolvido em 2019.